"Em França não sou reconhecido como um cineasta francês"

Com <em>A Hora do Lobo</em> (estreia na quinta-feira), Jean-Jacques Annaud volta a celebrar o mundo animal
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Como foi trabalhar na China, na rodagem de A Hora do Lobo?

A China orgulhosa do trabalho quotidiano tem, agora, uma juventude que vive no mito californiano da comida abundante, o carro de luxo e as mulheres fáceis...

Globalmente, como definiria a atual sociedade chinesa?

Há muitas ideias pré-concebidas e eu sou dos que gostam de observar as coisas no terreno. Encarei o projeto de descobrir a China, em particular a região mongol e a cultura dos lobos, como uma verdadeira dádiva. A história do jovem que é enviado para a Mongólia interior, para ensinar os pastores, tocou-me muito, já que em 1967 vivi algo muito parecido, quando fui para os Camarões numa delegação de escolas de cinema. Para ele, a Mongólia marcou-o para o resto da vida e eu posso dizer o mesmo de África - é uma descoberta da natureza, do instinto, da própria identidade.

Desse confronto nasceu um filme fiel ao seu projeto inicial?

Sim, sem dúvida. Antes de escrever o filme visitei, na companhia do autor do livro, Joang Rong, os lugares onde a história aconteceu. Acabei por ter a companhia de umas 35 pessoas (amigos, familiares, até mesmo um cantor de rock mongol) que viajaram comigo, dando-me a conhecer uma verdadeira paixão pela conservação da beleza natural e a defesa dos lobos.

[citacao:A nossa primeira decisão foi terinar os lobos a partir das três semanas de idade]

E como é que se têm lobos que, realmente, se comportam como atores?

É preciso fazer o mesmo que se faz com todos os atores: criar um clima de confiança. Isso é importante para as crianças ou para os principiantes, mas também para as estrelas de Hollywood - ser ator é ser frágil e ser lobo é acreditar no perigo permanente. Daí a nossa primeira decisão: treinar os lobos a partir das três semanas de idade. Tivemos um treinador, vindo do Canadá, que teve ao seu dispor um verdadeiro parque para os lobos. Foram três anos de trabalho: o essencial era conseguir que os lobos não se assustassem com uma equipa de filmagens. E depois levar o lobo a ir de um ponto A a um ponto B, consumando uma determinada ação quando chega a B... Sem esquecer que cada ação tem de ser filmada à primeira vez.

Veja o trailer

[youtube:RWYcGABhnxI]

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